Mateus 1:20

E, projetando ele isso, eis que em sonho lhe apareceu um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber a Maria, tua mulher, pois o que nela se gerou é do Espírito Santo;

E, projetando ele isso

 

Ao tomar conhecimento da gravidez de Maria, José passou a viver um drama pessoal, pois tinha que tomar alguma atitude sobre o problema. O que fazer?

 

Que opções ele tinha?

 

 A primeira e mais óbvia seria tornar público o fato, denunciando Maria às autoridades eclesiásticas, expondo-a, além do risco de apedrejamento, à vergonha e à humilhação. Neste caso, conforme já dissemos nos comentários ao verso anterior, ele estaria tomando a atitude mais pragmática e conforme a justiça que prevalecia na época. Agindo assim manteria seu orgulho intacto e se vingaria de Maria pela traição que cometera. 

 

A segunda e mais sensata, em princípio, seria deixá-la em segredo, ou seja, evitaria o escândalo imediato, embora não o afastasse definitivamente, já que a gravidez iria aparecer mais cedo ou mais tarde. A bomba inevitavelmente estouraria, mas ele estaria longe o suficiente para não ser atingido. Maria pagaria por sua traição e ele não carregaria o peso de ter sido o delator.

 

Por fim, e o que ele, de coração, queria, havia a hipótese de ignorar tudo e assumir a paternidade da criança. A gravidez pareceria uma decorrência natural da consumação do casamento, que seria antecipado, para evitar comentários maldosos dos fofoqueiros de plantão. Mas, ao que tudo indica, principalmente em decorrência da decisão tomada, o seu orgulho masculino, fortemente influenciado pela cultura judaica, falou mais alto. Como poderia ele criar um filho que não era seu, fruto de uma traição torpe? Seria capaz de conviver com uma mulher que o desrespeitou de forma tão traiçoeira? Não, isso estava fora de cogitação. Seria uma demonstração inequivoca de fraqueza. Melhor o sofrimento do amor perdido do que o do orgulho ferido.

 

Não sabemos quanto tempo José conviveu com o problema, quantos dias e noites passou pensando, sofrendo e o quanto vacilou antes de tomar uma decisão. A opção de deixá-la em segredo parecia mais cômoda, pois não o encurralava, ou seja, daria a ele a oportunidade de mudar de idéia, pelo menos no curto prazo. A decisão de tornar público o problema dificultaria um eventual arrependimento. Assumir a paternidade geraria o mesmo inconveniente. 

 

eis que em sonho

 

Finalmente, a resposta ao sofrido dilema vem, através de um sonho.

 

O sonho é a interface de comunicação mais comumente utilizada entre o mundo físico e o mundo espiritual. Deus, que é espírito, utiliza frequentemente os sonhos para se comunicar com as pessoas, conforme descrito em diversas passagens bíblicas. Isso porque o sono liberta, parcialmente, a alma do corpo, permitindo-lhe entrar em relação com o mundo espiritual. Por estar livre, a alma se torna mais sensível. A percepção espiritual durante o sono, por outro lado, quase nunca se dá de forma clara e direta, exigindo maturidade espiritual e fé para que a mensagem seja compreendida. Deus conhecia as limitações de José e por isso lança mão do sonho para transmitir sua mensagem a ele.

 

apareceu um anjo do Senhor

 

O termo ANJO significa "mensageiro" e é aplicado mais amplamente a seres espirituais. A imagem do anjo com enormes asas não corresponde à verdade. Afinal, se os anjos precisam de asas para voar, não seriam seres espirituais, mas físicos, já que o espírito não depende da matéria para se locomover. Assim, os anjos alados são mera fantasia, não encontrando qualquer respaldo na realidade. Os anjos, ou mensageiros espirituais, são seres energéticos, dotados de grande poder, inteligência e, principalmente, de livre-arbítrio. Satanás é um anjo que optou por seguir seu próprio caminho, independente da vontade do próprio Criador. Ao tomar tal decisão foi seguido um terço de todos os anjos, que também exerceram seu livre poder de escolha. Há, portanto, os anjos que se subordinam às diretrizes de Satanás, assim como há os anjos subordinados ao Criador, que são os anjos do Senhor. O anjo em questão, conforme frisado, era um anjo do Senhor.

 

José, filho de Davi

 

A versão das Escrituras produzida por Constantino insiste em reafirmar tradicionalismos inúteis. Ser da descendência de Davi ou de quem quer que seja nenhuma influência teria na vida de Jesus Cristo e muito menos na legitimidade de sua obra. Conforme já dissemos nos comentários de Mateus 1:1, a tentativa de ligar Jesus a Davi e Abraão através de um uma genealogia forçada não foi bem sucedida, uma vez que os Judeus, mesmo assim, não o aceitaram como o Messias prometido. A ligação genealógica entre Jesus e Davi, mediante José, só seria possível caso este fosse o pai biológico, o que não corresponde à verdade, caso nos apoiemos nos textos bíblicos.

 

Não temas receber a Maria

 

Este trecho revela o desejo íntimo de José, ou seja, no fundo, por amar Maria, o que ele realmente queria era continuar com ela. Mas para isso, teria que aceitar a traição e assumir a paternidade da criança. Esse era um obstáculo intransponível. Sua relutância, porém não se fundamentava no fato passado, mas no futuro. Tendo Maria sido capaz de traí-lo uma vez, o que a impediria fazê-lo novamente? Conhecedor dos sentimentos de José, o primeiro conselho do anjo foi no sentido de livrá-lo do medo que o paralisava. 

 

o que nela se gerou é do Espírito Santo

 

Partindo de que Jesus é o Verbo que se fez carne (encarnou), sua existência é eterna. Logo, ele não começou a existir a partir da concepção ou do nascimento físico. Portanto, Jesus não foi gerado.

 

O corpo humano, por sua vez, começa a existir a partir da fusão das células sexuais, fusão esta que atualmente não requer uma relaçao sexual para ocorrer.O homem e a mulher, assim como todos os seres que habitam a terra tem uma existência finita, segundo processos biológicos que ocorrem de forma geralmente uniforme e previsível, ou seja, cada um nasce, se desenvolve, envelhece e finalmente morre.

 

O corpo no qual o Verbo encarnou, como o próprio termo indica, era um corpo carnal, como qualquer outro. Do ponto de vista físico, nada de especial havia em Jesus que o diferenciasse dos outros. Ele estava sujeito às mesmas necessidades fisiológicas, como dormir, comer, tomar banho, etc e também a doenças e ferimentos. Tanto que morreu ao ser crucificado. 

 

Então por que complicar algo tão simples e direto? Por que o Jesus físico não poderia ter um pai biológico? Se o Verbo veio como homem, teria que ser totalmente humano, ou seja, ter sido concebido como qualquer humano, pelo processo biológico convencional, como foi João Batista. Se o espermatozóide foi dispensado, por que não poderia também o óvulo? Não seria muito mais fácil se ele tivesse simplesmente se materializado, a partir do nada, neste mundo?

 

Entendo que toda essa história de fecundação espiritual e nascimento virginal foi introduzido nas Escrituras com a mera finalidade de cativar o imaginário das massas. Em outras palavras, entendo que José era, sim, o pai biológico do Jesus carnal, cujo corpo foi usado pelo Verbo para cumprir o seu propósito. Sua origem terrena se deu, portanto, da forma convencional, ou seja,  igual à de todo mundo. 

 

Porém, tal versão, aos olhos da maioria, se configura absurda e herética. 

 

Posteriormente nos aprofundaremos mais neste tema. Por ora, é suficiente o que foi dito.

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