Salmos 90:2

Antes que nascessem os montes, ou que tivesses formado a terra e o mundo, sim, de eternidade a eternidade tu és Deus.

Antes que nascessem os montes

 

O Salmo 90, conforme acredita a maioria dos estudiosos da Bíblia, foi escrito por Moisés, que viveu entre 1525 e 1405 a.C., aproximadamente. Em sua época praticamente não existia conhecimento científico. Sendo assim ninguém sabia, incluindo os estudiosos, que a terra é um planeta esférico e em movimento. Não se tinha sequer noção acerca de seu tamanho. O Sol e as demais estrelas eram considerados elementos secundários e relativamente menores, que giravam em torno da terra e existiam em função dela. As galáxias e a grandiosidade do universo eram absolutamente desconhecidas.

 

 Podemos então, à primeira vista, concluir que Moisés naturalmente percebia o mundo baseado em suas próprias experiências e no conhecimento de sua época. Então, para ele, as montanhas ou montes eram as maiores, mais antigas e mais estáveis estruturas perceptíveis e por isso as utiliza como referências de grandeza e antiguidade.

 

Mesmo considerando que Moisés tinha conhecimento muito acima da média de seu tempo, ele não tinha como saber, a não ser que o próprio Deus o revelasse. Neste ponto uma dúvida se coloca: ou ele conhecia, mediante revelação divina, a verdade sobre a terra e sua posição relativa no universo, mas preferiu apresentar uma versão acessível ao conhecimento de sua época, ou de fato nada sabia sobre o assunto, e usou seu próprio conhecimento e experiência como fonte de referência.

 

A mim parece, levando-se em conta os relatos da criação, em Gênesis, que a realidade sobre o universo representava um conhecimento muito pesado, mesmo para um homem como Moisés. Diante de tal incapacidade, Deus faz a revelação através de uma linguagem mitológica, único recurso capaz de proporcionar respostas satisfatórias, apesar de alguns erros de interpretação, cometidos por Moisés, evidentemente.

 

ou que tivesses formado a terra e o mundo

 

Tendo usado o nascimento dos montes, estruturas perceptíveis e acessíveis à experiência comum das pessoas, como ponto de referência temporal, Moisés indica agora a terra e o mundo como referências, numa clara ampliação do enfoque, tanto espacial quanto temporal, para marcar a eternidade de Deus. Não é possível perceber a terra ou o mundo com a mesma facilidade com que se percebe uma montanha. O conceito de mundo era extremamente abstrato na época, já que não se tinha noção sobre suas dimensões, enquanto uma montanha podia ser vista e até mesmo escalada. Talvez a compreensão dimensional do mundo de então fosse tão precária quanto é hoje a nossa compreensão dimensional e temporal do universo como um todo.

 

de eternidade a eternidade tu és Deus.

 

Aplica-se a esta passagem o que foi dito nos comentários de João 1:1, sobre a existência do Logos, tanto na eternidade passada quanto na futura.

 

Apenas acrescento que a afirmação da divindade do Logos é, por sua vez, colocada de forma relativa, como ocorre em outros textos do antigo testamento, ao se comparar o Logos com outros deuses. Tal comparação é inadequada, já que o Logos é absoluto e, portanto, não passível de relativizações. 

 

As comparações ou relativizações estão mescladas e fazem parte da estrutura social e comportamental da humanidade, tanto no aspecto coletivo, quanto individual. Ela se manifesta sempre que comparamos a realidade com um modelo pré-definido que estabelecemos como referência. Aceitamos o que combina com nosso padrão referencial e rejeitamos o que não combina com ele.

 

Cada indivíduo, povo ou comunidade possui seu próprio modelo referencial e tenta enquadrar nele a realidade. Quando confrontado com sistemas diferentes do seu, tende a desqualificar o sistema do outro, afirmando que o seu é verdadeiro e o do outro é falso. Nem mesmo Deus ou os deuses ficaram de fora de tal relativização.

 

Tal modelo relativista, por outro lado, expõe a incapacidade humana em compreender a existência do absoluto. A realidade é o que é, independente do que como ela é vista. O Logos é, idependente do que se pense sobre Ele.

 

O que quero dizer é que, ao se referir ao Logos como Deus, há relativização, pois deus é usado como adjetivo, abrindo a possibilidade de atribuí-lo a outros "deuses", mesmo que em menor grau. Considerando o aspecto absoluto do termo, a divindade pode ser aplicável a apenas um ser, que é Deus.

 

Mas deixemos para aprofundar esta questão em uma passagem mais adequada.

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